Em 1987,
o chamado Dia da Sobrecarga da Terra - data em que todos os seres humanos do
mundo acabaram com os recursos necessários para viver de maneira sustentável
por um ano - caiu no dia 9 de dezembro.
Desde
então, o limite do "orçamento natural" do planeta foi ultrapassado de
maneira cada vez mais intensa, fazendo com que a data em que essa barreira é
atingida seja registrada mais cedo a cada ano. Em 2016, o Dia da Sobrecarga da
Terra foi 8 de agosto, seis dias depois deste ano.
"Estamos
consumindo nossos recursos naturais como se fossem um produto que podemos
comprar quando acaba, consumindo tanto quanto queremos dele", disse Lena
Michelsen, consultora de políticas para nutrição e agricultura da rede de
desenvolvimento alemã Inkota, em entrevista à DW. "Não podemos continuar
desse jeito."
Segundo
especialistas em sustentabilidade, atualmente a humanidade precisa de 1,7
planeta para suprir os recursos que consome dos ecossistemas da Terra.
"Hoje,
o nosso consumo coletivo excede em 70% o que o planeta pode renovar",
avalia Mathis Wackernagel, da Global Footprint Network, um grupo de pesquisas
sem fins lucrativos que, anualmente, calcula o chamado Dia de Sobrecarga da
Terra (ou Earth Overshoot Day, em inglês).
O
cálculo se baseia na biocapacidade do planeta - o montante de recursos naturais
disponíveis - e divide essa capacidade pelo montante de recursos consumidos,
também conhecido como a "pegada ecológica da humanidade". Esse
número, então, é multiplicado pelos dias do ano.
Países
ricos x países de baixa renda
A
rede Global Footprint Network não calcula apenas a pegada ecológica global da
humanidade, mas também avalia o consumo individual dos países. Não é
surpreendente que nações ricas como Luxemburgo, Catar, Austrália e Estados
Unidos usem bem mais recursos que países de baixa renda, como Eritreia, Haiti,
Burundi e Paquistão.
A
Alemanha, por exemplo, está bem acima do nível global de consumo dos recursos
naturais. "Se toda a população mundial vivesse como se vive na Alemanha,
precisaríamos de 3,2 Terras para alimentar a nossa fome de consumo",
afirmou Michelsen, responsável pela organização de um protesto em Berlim neste
Dia da Sobrecarga da Terra. "Em comparação, se todos vivêssemos como as
pessoas em Moçambique, precisaríamos de meio de planeta por ano."
Emissões
de carbono aprofundam "pegada ecológica"
Um
motivo para esse superconsumo de recursos, segundo Wackernagel, é que a
população mundial está aumentando a cada ano - assim como os salários em vários
países, o que aumenta também a demanda e a vontade das pessoas de consumir.
Mas
um dos principais vilões do esgotamento do "orçamento natural" do
planeta são as emissões de carbono, atualmente responsáveis por 60% da pegada
ecológica da humanidade. Se as emissões caíssem pela metade, o "Dia da
Sobrecarga da Terra" seria adiado em cerca de três meses.
Segundo
o especialista da Global Footprint Network, se a humanidade fosse capaz de
viver de acordo com os objetivos traçados durante a Conferência do Clima de Paris,
seria possível viver consumindo menos que os recursos disponíveis do planeta
até 2050.
"É
totalmente possível, mas pouco provável neste momento", acredita
Wackernagel. "As tendências atuais não apontam nessa direção."
Mudanças
necessárias
Segundo
Michelsen, há três fatores importantes a serem melhorados para diminuir o
consumo de recursos naturais:
produzir
energia a partir de fontes renováveis;
introduzir
práticas ecológicas na agricultura (a agricultura industrial é responsável por
um terço das emissões de CO2);
alterar
os padrões de mobilidade, já que voar e dirigir emitem enormes quantidades de
gases de efeito estufa.
Para
adiar o próximo Dia da Sobrecarga da Terra, líderes políticos mundiais precisam
ajustar suas prioridades, afirma Mathis Wackernagel, da Global Footprint
Network.
Todos
os anos, o Fórum Econômico Mundial publica um relatório de riscos no qual lista
as respostas de especialistas e formadores de opinião do mundo todo sobre quais
são os riscos mais significativos para o planeta no longo prazo.
Segundo
Wackernagel, no ano passado, seis dos dez indicadores tinham orientação
ambiental, incluindo escassez de água, mudanças climáticas e assuntos
relacionados a recursos naturais.
Ao
mesmo tempo, o Relatório de Competitividade Global do Fórum Econômico Mundial
enumera 114 indicadores que tornam um país "forte" - nenhum dos
indicadores de 2016 fez menção a recursos naturais, ao meio ambiente ou às
mudanças climáticas.
"Fico
confuso com o fato de fingirmos que os riscos relativos aos recursos naturais,
dos quais temos plena consciência, nunca vão nos afetar", afirma
Wackernagel.
Fonte:https://www.terra.com.br/noticias/ciencia/sustentabilidade/meio-ambiente/dia-da-sobrecarga-da-terra-chega-mais-cedo-em-2017,9fe5c8d48706298382f996e429d085c8uwzp3plm.html
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