Dener
O jogador morreu novo, com 23, há exatos 20 anos,
mas viveu o suficiente pra mostrar que poderia ter sido um dos grandes
Leônidas da Silva, Pelé, Cruyff e Maradona. Em comum, esses quatro jogadores têm o fato de não terem apenas mudado suas próprias trajetórias, a história dos clubes pelos quais atuaram, mas também mudaram o cenário do futebol em sua época.
Leônidas,
com sua bicicleta, mostrou que existia mais no jogo além de lançamentos longos
e chuveirinho na área. Pelé veio com o drible objetivo, o jogo da cintura, a
habilidade e a malandragem como armas para vencer a truculência em nível
mundial. Cruyff, com seu técnico Rinus Michels, tanto no Ajax quanto na seleção
holandesa, provaram que um esquema tático não precisa de jogadores guardando
posição. Maradona conquistou o mundo usando apenas sua perna esquerda.
Dener
poderia ter sido esse tipo de jogador. Se você tem menos de 25 anos,
provavelmente nunca ouviu falar nele. Se tem mais, ouviu, mas não o considera
como tal. Mas fique sabendo que sim, Dener poderia ter mudado a história do
esporte se não tivesse se envolvido em um trágico acidente de trânsito na
madrugada de 19 de abril de 1994, exatos 20 anos atrás.
Dener
apareceu para o futebol paulista em 1991, quando brilhou na campanha vitoriosa
da Portuguesa na Taça São Paulo de Juniores daquele ano. No mesmo ano foi
promovido para os profissionais, já se destacando. Muito grande para a Lusa,
Dener foi emprestado para o Grêmio e, no início de 1994, para o Vasco. Seu
clube formador sabia que seria impossível segura-lo e não queria correr o risco
de ter que enfrentar o craque em algum rival paulista.
Dener
tinha apenas 23 anos quando morreu, mas era, seguramente, a principal aposta
brasileira para o futuro. Colecionou gols antológicos e dribles
desconcertantes, que para ele, valiam mais do que a bola na rede em si. A
facilidade que tinha para se desvencilhar de um marcador era de um descaramento
quase cínico, a forma e o prazer com que ele executava era cruel, transformava
o apreciador do lance em uma espécie de sádico, não era humano fazer um
semelhante passar por tal humilhação. Era o destro mais canhoto que o futebol
já quase conheceu
.
.
Em
1994 começava a figurar nas convocações da seleção principal e, se vivo,
provavelmente estaria na lista dos 23 que foi aos Estados Unidos naquele ano em
busca do tetra. O Brasil teria sido campeão com ele? Não sabemos, mas com
certeza, ele não passaria em branco. Holandeses, suecos, italianos e afins
ficariam no chão em seu caminho. Essa e outras perguntas também morreram junto
com o craque no acidente. Será que Romário seria o craque daquela Copa? Será
que Bebeto seria o parceiro de ataque do Baixinho? Será que o futebol continuaria
o mesmo se Dener fosse para a Europa e lá atingido seu máximo potencial,
mostrando que era sim possível combater a força com graça e desenvoltura?
Infelizmente
esses questões vão permanecer sem solução, porém, como amante de futebol, é bom
pensar que foi incrível quase ver o Dener mudar a história do esporte.
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