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A empresária Paula Kfouri, 34, mãe de João, 1, na sua casa em São Paulo |
LETÍCIA NAÍSA
DA EDITORIA DE TREINAMENTO
DA EDITORIA DE TREINAMENTO
As vítimas mais comuns da esclerose múltipla são as mulheres em idade fértil. A doença atinge as mulheres duas vezes mais do que os homens e a média de idade para seu aparecimento é aos 30 anos.
As razões para a prevalência maior entre as mulheres ainda são desconhecidas pela ciência, mas o mesmo fenômeno acontece com outras doenças autoimunes, como lúpus. No caso da esclerose múltipla, o sistema imunológico passa a funcionar de maneira inadequada, atacando o sistema nervoso central e provocando lesões no cérebro e na medula, que causam sintomas como fadiga extrema, visão turva, fraqueza e problemas cognitivos.
Essa situação muda durante a gravidez. Na gestação, há uma queda natural na atuação do sistema imunológico para evitar que o feto seja encarado e atacado como um corpo estranho. Engravidar funciona quase como um tratamento temporário para a doença, segundo a neurologista Patricia K. Coyle, da Universidade de Stony Brook, em Nova York.
A técnica em logística Cíntia Campos, 40, tinha dores no corpo, fadiga e falhas de memória e teve que se afastar do trabalho. O diagnóstico de esclerose múltipla recebido em 2013 fez com que ela desistisse da ideia de ter filhos. Em março deste ano, se descobriu grávida; está com 18 semanas de gestação. "Com o decorrer da gravidez, estou melhorando", conta a santista.
Segundo especialistas, ao contrário do que se pensava há décadas, não existe contraindicação para as mulheres que têm esclerose múltipla e desejam engravidar. Frequentemente, a melhora dos sintomas dispensa a continuidade do tratamento medicamentoso durante a gravidez.
Para Coyle, é uma questão de escolha da paciente e do médico. Ela afirma que existem duas substâncias que podem ser seguras para uso durante um período inicial da gestação: interferon beta e acetato de glatirâmero, dois medicamentos imunomoduladores que têm evidências de não serem prejudiciais.
O alívio temporário não afasta, porém, outras angústias. A mineira Bianca Azevedo, 37, desistiu de ser mãe depois do seu diagnóstico em 2015 e está na espera do SUS para colocar um DIU (dispositivo intrauterino, método anticoncepcional inserido no útero). "Não tenho o direito de colocar uma criança no mundo sem saber qual futuro eu vou poder dar a ela", diz.
A apreensão de Bianca com o futuro é bastante comum no consultório. "As pacientes temem piorar e não poder cuidar da criança", afirma a neurologista Maria Cecília de Vecino, coordenadora do centro de esclerose múltipla e doenças desmielinizantes do Hospital Moinhos de Vento, em Porto Alegre.
Outra dúvida recorrente é relativa ao pós-parto. Com o fim da gestação, o sistema imunológico volta a funcionar normalmente, trazendo a possibilidade do retorno dos sintomas. A medicação usada para evitar os surtos –cortisona ou imunoglobulina– são fortes e não há consenso de que a amamentação seja segura para a criança.
O Ministério da Saúde diz que não existem dados suficientes na literatura médica para saber se a prática pode ser livre de riscos e recomenda não amamentar.
Sem sintomas há seis anos, a empresária paulista Paula Kfouri, 34, parou de tomar os remédios quando engravidou e não voltou a eles desde então. Ela aposta numa mudança de alimentação e estilo de vida para poder amamentar o filho João, 1, até ele completar dois anos. "Alguma coisa me diz que amamentação também protege a mim e ao meu filho de alguma forma", diz. "Nenhum médico me disse isso, mas é minha escolha."
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